A FORÇA DAS PALAVRAS
Se um dia quis fugir,
foi das palavras que à revelia
de meu querer impediam
de em mim estar
ou mesmo sofrer.
Passados os anos, pergunto
de onde vinham tantas frases
com dissimulada sintaxe
de apego e prisão.
Por décadas levei-as comigo
diante dos livros que lia,
nas ruas por onde andava
e até em trilhas desertas.
Dominaram meus passos,
meu silêncio, meu sentir.
Inúmeras vezes tentei negá-las.
Desnudei os ossos.
Aventurei-me em abismos da alma.
Quem me dera! Elas eram
de uma rigidez perversa,
intransponível músculo humano.
Sem pena, engoliam meus étimos
e minha natural existência.