TRÊS POR QUATRO
Para Miguel Sanches Neto
Se escrevo, me descrevo.
Sei, sou cheio de impurezas.
Carrego comigo meio mundo;
o outro me leva
por esses caminhos, ora claros,
ora turvos. Comigo vão
os tempos antigos e seus escritos,
seus deuses, seus êxitos, seus fracassos.
E vão estes tempos que se dizem
modernos e logo se mostram
já velhos. Bem pouco ligo
pra isto ou aquilo. Apenas,
de posse do fato de estar vivo,
persigo o instante que, entanto,
me foge. Nunca sou, de verdade,
o que sou. Nunca estou, real,
no lugar em que respiro.
Se escrevo, me escuto; apenas isto.